A cultura pode ser definida como “o conjunto de atitudes, valores, crenças e comportamentos compartilhados por um grupo de pessoas, transmitido de uma geração para outra.”1 Tendo em vista que a maioria das crianças do mundo não vive em países ocidentalizados, e que o contexto cultural influencia o desenvolvimento, as pesquisas transculturais sobre o desenvolvimento infantil demandam atenção especial.
Do que se trata e problemas
Este artigo focaliza o papel do contexto cultural no desenvolvimento social da criança. É importante observar que a forma do comportamento pode parecer idêntica entre os diferentes contextos culturais. No entanto, tendo em vista que esses contextos variam em costumes e crenças, o mesmo comportamento pode ser interpretado de maneiras diferentes em culturas diferentes.2 É provável que um comportamento considerado adaptativo no contexto de determinada cultura seja incentivado por pessoas significativas, inclusive por pais e pelas outras crianças. Por outro lado, se um comportamento é considerado inadequado será desestimulado. Além disso, os meios pelos quais um comportamento é estimulado ou desencorajado podem ser determinados e definidos pela cultura.
A maioria dos trabalhos transculturais sobre o desenvolvimento social da criança tem sido orientada por uma estrutura ‘ética’, que supõe que os construtos medidos tenham relevância para todas os contextos culturais.3 Por outro lado, uma estrutura ‘êmica’ refere-se a ideias, comportamentos e valores específicos, considerados significativos pelos membros de determinada cultura. Na prática, a perspectiva ética pode levar os pesquisadores a definir – e, portanto, a avaliar – os construtos da mesma maneira para todos os contextos culturais – ou seja, por meio dos mesmos métodos e das mesmas medidas. Portanto, a abordagem ética pode resultar na inexistência de definições culturalmente específicas de determinados construtos. Por exemplo, pesquisadores podem supor que a competência social, como construto, seja universalmente relevante e que pode ser medida por avaliações concebidas, por exemplo, em laboratórios norte-americanos. Esta hipótese ética pode estar totalmente correta, mas seria necessário analisá-la em termos empíricos. É provável que, em certa medida, o estudo das competências sociais demande uma convicção êmica que exija conceituação e medições próprias a cada contexto cultural. Alguns aspectos da competência podem ser considerados universais, outros não.
Contexto de pesquisa
Além da cultura, é preciso considerar outros construtos significativos. Por exemplo, em geral os pesquisadores discutem dois fenômenos culturais: 1) culturas independentes, individualistas, ou culturas ocidentais; e 2) culturas interdependentes, coletivas, ou culturas orientais e meridionais – por exemplo, da América Central e da América do Sul. As culturas ocidentais são frequentemente descritas como aquelas cujos membros valorizam assertividade, expressividade e competitividade, ao passo que as culturas orientais e meridionais são frequentemente descritas como aquelas cujos membros valorizam harmonia coletiva e cooperação. Recentemente, chegou-se ao consenso de que uma mistura sutil dos dois construtos é encontrada na maioria dos países: alguns relativamente mais individualistas e outros relativamente mais coletivistas. É importante observar que, na área de pesquisa revisada neste artigo, há relativamente poucas informações sobre as culturas meridionais – ou sobre as diferenças entre as culturas meridionais e setentrionais. Portanto, esta revisão focaliza principalmente as comparações entre as culturas ocidentais e orientais.
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